terça-feira, 23 de agosto de 2011


TORTURA 
  
Tirar dentro do peito a Emoção, 
A lúcida Verdade, o Sentimento!  
— E ser, depois de vir do coração, 
Um punhado de cinza esparso ao vento! ...  
  
Sonhar um verso de alto pensamento, 
E puro como um ritmo de oração!  
— E ser, depois de vir do coração, 
O pó, o nada, o sonho dum momento...  
  
São assim ocos, rudes, os meus versos: 
Rimas perdidas, vendavais dispersos, 
Com que iludo os outros, com que minto!  
Quem me dera encontrar o verso puro, 
O verso altivo e forte, estranho e duro, 
Que dissesse, a chorar, isto que sinto! 


Florbela Espanca.

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